Esquecer-me de ti? Pobre
insensata!
Posso acaso o fazer quando em minh’alma
A cada instante a tua se retrata?
Quando és de minha vida o louro e a palma,
O faro amigo que anuncia o porto,
A luz bendita que a tormenta acalma?
Posso acaso o fazer quando em minh’alma
A cada instante a tua se retrata?
Quando és de minha vida o louro e a palma,
O faro amigo que anuncia o porto,
A luz bendita que a tormenta acalma?
Quando na angústia fúnebre
do horto
És a sócia fiel que azinha instila
Na taça da amargura algum conforto?
És a sócia fiel que azinha instila
Na taça da amargura algum conforto?
Esquecer-me de ti, pomba
tranqüila,
Em cujo peito, erário de esperança,
Entre promessa meu porvir se asila!
Em cujo peito, erário de esperança,
Entre promessa meu porvir se asila!
Esquecer-me de ti, frágil
criança,
Ave medrosa que esvoaça e chora
Temendo o raio em dias de bonança!
Ave medrosa que esvoaça e chora
Temendo o raio em dias de bonança!
Bane o pesar que a fronte
te descora,
Seca as inúteis lágrimas no rosto...
Que, pois, receias se inda brilha a aurora?
Seca as inúteis lágrimas no rosto...
Que, pois, receias se inda brilha a aurora?
Ermo arvoredo aos temporais
exposto,
Tudo pode aluir, tudo apagar
Em minha vida a sombra do desgosto;
Tudo pode aluir, tudo apagar
Em minha vida a sombra do desgosto;
Ah! mas nunca teu nome há
de riscar
De um coração que te idolatra, enquanto
Uma gota de sangue lhe restar!
De um coração que te idolatra, enquanto
Uma gota de sangue lhe restar!
É teu, e sempre teu, meu
triste canto,
De ti rebenta a inspiração que tenho,
Sem ti me afogo num contínuo pranto;
De ti rebenta a inspiração que tenho,
Sem ti me afogo num contínuo pranto;
Teu riso alenta meu cansado
engenho,
E ao meigo auxílio de teus doces braços
Carrego aos ombros o funesto lenho.
E ao meigo auxílio de teus doces braços
Carrego aos ombros o funesto lenho.
De mais a mais se apertam nossos laços,
A ausência... oh! Que me importa! estás presente
Em toda a parte onde dirijo os passos.
Na brisa da manhã que
molemente
Junca de flores do deserto as trilhas
Ouço-te a fala trêmula e plangente.
Junca de flores do deserto as trilhas
Ouço-te a fala trêmula e plangente.
Do céu carmíneo nas
douradas ilhas
Vejo-te, ao pôr-do-sol, a grata imagem,
Cercada de esplendor e maravilhas.
Vejo-te, ao pôr-do-sol, a grata imagem,
Cercada de esplendor e maravilhas.
Da luz, do mar, da névoa e
da folhagem
Uma outra tu mesma eu hei formado,
Outra que és tu, não pálida miragem.
Uma outra tu mesma eu hei formado,
Outra que és tu, não pálida miragem.
E coloquei-te num altar
sagrado
Do templo imenso que elevou talvez
Meu gênio pelos anjos inspirado!
Do templo imenso que elevou talvez
Meu gênio pelos anjos inspirado!
Não posso te esquecer, tu
bem o vês!
Abre-me d’alma o livro tão vendado,
Vê se te adoro ou não: por que descrês?
Abre-me d’alma o livro tão vendado,
Vê se te adoro ou não: por que descrês?
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