A mulher sem amor é como o inverno
Como a luz das antélias no deserto
Como o espinheiro de isoladas fragas
Como das ondas o caminho certo.
A mulher sem amor é mancenilha
Das ermas plagas sobre o chão crescida
Basta-lhe à sombra repousar um’hora
Que seu veneno nos corrompe a vida.
Do eivado seio no profundo abismo
Paixões repousam num sudário eterno
Não há canto nem flor – não há perfumes
A mulher sem amor é como o inverno.
Su’alma é um alaúde desmontado
Onde embalde o cantor procura um hino
Flor sem aromas – sensitiva morta
Batel nas ondas a vagar sem tino.
Mas se um raio do sol tremendo deixa
Do céu nublado a condensada treva
A mulher amorosa é mais que um anjo
- é um sopro de Deus que tudo eleva!
Como o árabe ardente e sequioso
Que a tenda deixa pela noite escura
E vai no seio de orvalho lírio
Lamber a medo a divinal frescura.
O poeta venera no silêncio
Bebe o pranto celeste que ela chora
Ouve-lhes os contos – perfuma-lhe a vida
- a mulher amorosa é como a aurora!
Nenhum comentário:
Postar um comentário