Sabe
meu filho, até hoje tive tempo para brincar com você.
Nunca
joguei dominó, dama ou xadrez.
Sou
importante para números e convites sociais,
Uma série de compromissos
inadiáveis...
É
impossível largar tudo isso para sentar no chão com você...
Um
dia você veio com o seu caderno da escola para o meu lado,
Não liguei,
continuei a ler o jornal.
Nunca
vi seu boletim e nem sei o nome de sua professora,
De quem você tanto fala!
De
que adianta saber dessas mínimas coisas
Se tenho tantas outras coisas maiores
para saber?
Puxa,
filho, como você cresceu! Eu nem havia percebido isso!
Aliás, não reparo quase
nada.
Sei
que você se queixa, que você sente falta de uma palavra,
De uma pergunta minha,
de um chute meu na bola, mas...
Eu não tenho tempo.
Sei,
também, que você sente falta do abraço, do riso, do andar a pé.
Mas,
sabe, uma pessoa como eu não tem tempo para essas coisas...
Tenho
que dar atenção a muita gente, dependo delas, filho.
Sei
que você fica chateado porque, às vezes, nem nos falamos
E, quando isto
acontece, é monólogo, só eu falo.
E
você tem a péssima mania de vir correndo sobre a gente,
Você tem a mania de
querer pular nos braços dos outros...
Filho,
não tenho tempo para abraçá-lo,
Não tenho tempo para ficar de "papo
furado" com criança.
Filho,
o que você entende de computador, comunicação, cibernética?
Como
é que vou parar para conversar com você?
Sabe,
filho...
Não
tenho tempo, mas, o pior de tudo,
O
pior de tudo é que...
Se
você morresse agora, já, neste instante,
Eu
ficaria com um peso na consciência,
Porque até hoje não arrumei tempo para
você.
E,
na outra vida, por certo,
Deus não terá tempo de me deixar, pelo
menos vê-lo!
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