terça-feira, 23 de julho de 2013

Conto de amor


Eu gostava dela... muito mesmo. E já fazia muito tempo. Mas não tinha esperanças. Um abismo nos separava. Afinal, ela era a missa da minha cidade, e eu, apenas o cantor da banda que fazia o fundo musical para o desfile. 
De longe, eu a via caminhar na passarela improvisada no meio do salão, e o meu desejo era poder cantar para ela a mais bela canção de amor. Mas nem isso eu podia. Fiquei ali, olhando-a caminhar com graça, sob os olhares invejosos das mulheres e cobiçosos dos homens. E eu, que a queria só para mim, nem podia cantar para ela. Só podia olhar... de longe... e desejá-la. Ao fim do desfile, seguiu-se o baile. Encantadora, eu a vi dançar com todos os homens, que faziam fila para tê-la nos braços. Eu cantava para ela. Punha emoção em minha voz... dizia as mais belas frases de amor, perseguindo-a com meu olhar apaixonado. A noite toda foi um tormento. Eu só podia olhar... de longe... e desejá-la. O baile chegou ao fim, finalmente, e eu a perdi de vista. Os rapazes começaram a desmontar a aparelhagem de som. Apanhei um uísque no bar e fui me sentar lá fora, no jardim ao lado do clube, olhando o céu, onde a claridade começava a se insinuar. Lentamente. Fechei os olhos e as cenas de toda aquela noite passaram-me rapidamente pela cabeça. Eu só podia olhar... de longe... e desejá-la. Eu nem percebi... nem reconheci o perfume. Apenas um suave farfalhar e aquela voz penetrando meus ouvidos e instalando-se em meu coração como a suprema dádiva do amor.

- Eu não sei porque, mas acreditei que, durante toda a noite, você cantou especialmente para mim! – disse ela, com a voz trêmula, segurando-me o rosto entre suas mãos e beijando-me.

O dia amanheceu diante de mim naquele momento. Ela me olhava... de perto... e me desejava!

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