Eu gostava dela... muito mesmo. E já
fazia muito tempo. Mas não tinha esperanças. Um abismo nos separava. Afinal,
ela era a missa da minha cidade, e eu, apenas o cantor da banda que fazia o
fundo musical para o desfile.
De longe, eu a via caminhar na passarela
improvisada no meio do salão, e o meu desejo era poder cantar para ela a mais
bela canção de amor. Mas nem isso eu podia. Fiquei ali, olhando-a caminhar com
graça, sob os olhares invejosos das mulheres e cobiçosos dos homens. E eu, que a
queria só para mim, nem podia cantar para ela. Só podia olhar... de longe... e
desejá-la. Ao fim do desfile, seguiu-se o baile. Encantadora, eu a vi dançar
com todos os homens, que faziam fila para tê-la nos braços. Eu cantava para
ela. Punha emoção em minha voz... dizia as mais belas frases de amor,
perseguindo-a com meu olhar apaixonado. A noite toda foi um tormento. Eu só
podia olhar... de longe... e desejá-la. O baile chegou ao fim, finalmente, e
eu a perdi de vista. Os rapazes começaram a desmontar a aparelhagem de som.
Apanhei um uísque no bar e fui me sentar lá fora, no jardim ao lado do clube,
olhando o céu, onde a claridade começava a se insinuar. Lentamente. Fechei os olhos e as
cenas de toda aquela noite passaram-me rapidamente pela cabeça. Eu só podia
olhar... de longe... e desejá-la. Eu nem percebi... nem reconheci o perfume.
Apenas um suave farfalhar e aquela voz penetrando meus ouvidos e instalando-se
em meu coração como a suprema dádiva do amor.
- Eu não sei porque, mas acreditei
que, durante toda a noite, você cantou especialmente para mim! – disse ela, com
a voz trêmula, segurando-me o rosto entre suas mãos e beijando-me.
O dia amanheceu diante de mim
naquele momento. Ela me olhava... de perto... e me desejava!
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