domingo, 21 de julho de 2013

Porque me feriste?


Bem como as flores em botão fechadas
À espera da alva, que lhes venha abrir
No peito, mágoas a doer caladas
Pedem um raio para as expandir
Fita-e, eu quero do martírio santo
Que o céu me outorga, oferecer-te a palma
Deixa em teus olhos depurar minh’alma.

Desde que, ao ver-te, ajoelhei-me absorto
E à hora extrema o coração bateu
Meu pensamento, qual um raio morto
Caiu-te aos pés e nunca mais se ergueu
Quis perguntar-te: porque me feriste?
Fitei-te os olhos e tremi de medo
Tive receio de morrer tão cedo,
Tendo o desgosto de viver tão triste.

Tu, que sorrindo, minha fronte abrasas
Porque não deixas que te possa amar?
Eu dispensara do meu anjo as asas
Bastara um anjo para nos guardar
Forma visível de minha alma errante
Que o meu penoso coração dedilhar
Oh minha estrela, que de longe brilha
Nada te importa que eu soluce ou cante.

Para em teu seio penetrar a furto
E haurir o orvalho da pureza em flor
Longo... infinito... o pensamento é curto
Curto os vôos do meu casto amor
Quantas e quantas, já lá vão perdidas
Lágrimas d’alma, que se quebra em ânsias
Pude, nos sonhos, aspirar fragrâncias
E achei as rosas de manhã caídas.

Ah! Deste amor, o ansiar dorido
Cubra, sufoque do mistério o véu
Gênio dos anjos, se te amei perdido
Não rias, ouve: o direi no céu
Fita-me; eu quero, acrisolado e santo,
Do meu tormento oferecer-te a palma
Deixa em teus olhos depurar minh’alma
E em teus cabelos enxugar meu pranto.

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