sábado, 20 de julho de 2013

Dama negra



Quando longe de ti eu vegeto
Nestas horas de largos instantes
O ponteiro, que passa os quadrantes
Marca séculos, se esquece de andar
Fita o céu – é uma nave sem lâmpada
Fito a terra – é uma várzea sem flores
O universo é um desastre de dores
A madona não brilha no altar.

Então lembro os momentos passados
Então lembro tuas frases queridas
Como o infante que as pedras luzidas
Uma a uma desfia na mão
Como a virgem, que as jóias de noiva
Conta alegre a sorrir de alegria
Conto os risos, que me deste um dia
Que rolaram no meu coração.

Me recordo o lugar onde estavas
O rugir de teu lindo vestido
Como as asas de um anjo caído
Quando roçam nas flores do Val
Vejo ainda os teus olhos quebrados
Este olhar de tão fúlgidos raios
Este olhar que me mata em desmaios
Doce, terno, amoroso, fatal...

Tuas frases são garças que voam
É meu peito – o seu cândido ninho
Teus amores – a flor do caminho
Que eu apanho viajante do amor
Quer os cardos me firam as plantas
Quer os ventos me açoitem a fronte
Dou-lhe orvalho – do pranto na fonte
Dou-lhe o sol – do meu peito no ardor.

Oh! Se Deus algum dia, orgulhoso
O seu livro infinito volvesse
E nas letras de estrelas relesse
Seu passado nas folhas azuis,
Não teria o orgulho que tenho
Quando o abismo dest’alma sondando
No infinito de amor me abismando
Eu me engolfo num pego de luz.

Teu amor... teu amor me engrandece
Dá-me forças nos transes da vida
E a borrasca fatal, insofrida
Faz-me dó, faz-me rir de desdém
Se eu cair – rolarei no teu seio
Se eu sofrer – ouvirei o teu canto
Sentirei nos meus dias de pranto
Que inda longe de mim – vela alguém...

Meu amor... meu amor é um delírio
É a volúpia, que abrasa e consome
Meu amor é uma mescla sem nome
És um anjo, e minh’alma – um altar
Oh meu Deus! Manda ao tempo, que fuja
Que deslizem em fio os instantes
E o ponteiro, que passa os quadrantes
Marque a hora em que a possa beijar...

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